terça-feira, 14 de julho de 2009

A Justiça no contexto educacional

Seria contra-senso admitir-se a implantação das bases da ordem social do mundo de regeneração (novo ciclo evolutivo que a terra deverá alcançar) sem uma profunda reformulação do princípio de justiça impetrante no nosso mundo. Nota-se que as justiças vigentes, criadas sob o influxo da escola materialista, está voltada para concepções pragmáticas e utilitárias.

Trata-se, como se vê, de questão que, pela sua relevância, não pode estar ausente do contexto educacional.

Diante da introdução acima ressalta a necessidade de um novo conceito de justiça, para que a terra alcance seu estágio de mundo de regeneração?
Segundo fundamentos doutrinários, o mundo de regeneração só se efetivará na terra, quando for implantada uma estrutura social com base na ordem moral, que será o império da justiça. Já vimos que a tarefa é nossa, pois o mundo nos foi dado como campo de experiência.

Submetidos a expiações e provas aprendemos que o egoísmo é trágico e que devemos lutar pelo altruísmo, a começar de nós mesmos.

Qual o critério a ser adotado para se alcançar, num processo existencial, os fundamentos desta justiças que tem por essência a moral?
Allan Kardec nos explica, ao comentar o item 876, de o Livro dos Espíritos: “O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoa por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Deste todos os tempos e em todas as crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.” O critério apontado, como vemos, é o da caridade. O império da justiça começa pelo reconhecimento recíproco dos direitos do próximo. A lei de igualdade regerá esse processo. Kardec declara ao comentar o item 803: “Todos os homens são submetidos ás mesmas leis naturais; todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos ás mesmas dores, e o corpo do rico se destrói como o do pobre.

Deus não concedeu, portanto, a nenhum homem, superioridade natural, nem mesmo pelo nascimento, nem pela morte. Todos são iguais diante dele.”

Quais as perspectivas desse processo civilizatório, baseado no império da justiça?
Liberdade, igualdade e fraternidade, são os rumos da civilização. Em Obras Póstumas aparece um trabalho de Kardec sobre esses três princípios, tantas vezes deturpados, mas que deverão predominar no mundo de justiça. Escreveu o codificador: “Estas palavras constituem, por si sós, o programa de toda um ordem social que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que elas exprimem pudessem receber integral aplicação”.A seguir Kardec coloca a fraternidade como princípio básico, apontando a igualdade e a fraternidade como ponto de partida.

Como conciliar esses conceitos diante da afirmativa de que o princípio igualitário é inadmissível?
A igualdade absoluta não é possível, dizem os contraditores dos ideais igualitários, alguns alegando mesmo que a desigualdade é a lei da natureza. Citam, em favor dessa tese, o fenômeno da individualização, bem como a diversidade de aptidões. Lembram que os próprios minerais, vegetais e animais se diversificam ao infinito. Mas esquecem-se de que a lei natural não é a desigualdade, mas a igualdade na diversidade.

Vimos como Kardec define a igualdade, dos homens perante Deus. Vejamos também a sua explicação das desigualdades do plano social, que é precisamente o plano material da fragmentação e da especificação. Escreveu Kardec, no comentário ao item 805: “ Assim, a diversidade das aptidões do homem não se relaciona com a natureza íntima de sua criação, mas com o grau de aperfeiçoamento a que ele tenha chegado, como Espírito. Deus não criou, portanto, a desigualdade das faculdades, mas permitiu que os diferentes graus de desenvolvimento de mantivessem em contato, a fim de que os mais adiantados pudessem ajudar os mais atrasados a progredir, e também a fim de que os homens, necessitando uns dos outros, compreendam a lei da caridade, que os deve unir.”

Seria uma impropriedade admitir-se o absoluto no nosso mundo?
Nada existe como absoluto em nosso mundo, que é naturalmente relativo. A Fraternidade, a igualdade e a liberdade são conceitos relativos que tendem, porém, para a efetivação absoluta, através da evolução. No mundo de regeneração esses conceitos encontrarão maiores possibilidades de se efetivarem, porém a evolução terá levado os homens a se aproximarem dos exemplos ideais. O Espiritismo no convida à superação do relativismo material, para a compreensão dos planos superiores a que nos destinamos, como indivíduos e como coletividade. Nossa marcha evolutiva está precisamente traçada entre o relativo e o absoluto.

Poderíamos concluir que no mundo de regeneração, estaríamos libertos da exploração do homem pelo homem?
O império da justiça, isto é, a transformação da força em direito, assim como do egoísmo em altruísmo, marcará o inicio de libertação dos Espíritos que permanecerem na terra na condição de mundo de regeneração. Nesse mundo, sem dúvida o homem está ainda sujeito ás leis da matéria. A humanidade experimenta as nossas sensações e nossos desejos, mas livre das paixões desordenadas que nos escravizam. Não estamos diante de uma humanidade perfeita, mas apenas de um grau de evolução superior ao nosso. O homem ainda é falível, sujeito a se deixar levar por resíduos do passado, arricando-se a cair de novo em mundos expiatórios.


Postado por: Gilmar Alves Barbosa: Natural de Divinopólis-MG, advogado, palestrante . Ex-presidente da Aliança Municipal Espírita - AME, ex-presidente do Centro Espírita Estudantes do Evangelho, integrante e coordenador do GEEC - Grupo Educação, Ética e Cidadania. E-mail : gilmaralves@adv.oabmg.org.br

2 comentários:

  1. Fernando Antonio de Barros Lins16 de julho de 2009 às 19:21

    Aparentemente os disturbios sociais podem apresentar um alto contexto societário, entretanto, acredito que, passo a passo, a justiça que, através das normas jurídicas que são elaboradas pelo clamor social, amolda-se aos imperativos das mudanças que se efetivam no cotidiano.

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  2. Fernando Antonio de Barros Lins26 de agosto de 2009 às 18:27

    O sentido de justiça deveria estar no contexto de todas as pessoas, não no contexto de processo jurisdicional que é uma etapa de briga processual, mas sim como um assunto que deveria ser debatido sempre, com continuidade, como uma extensão do que é exposto no plano da espiritualidade maior que sabe fazer uma análise continua acerca da definição do que realmente seja a justiça.

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