segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ética espírita

O espiritismo não quer ser aceito cegamente, antes pede a discussão e a luz." A. Kardec Ética do grego ethos, hábito, é um dos braços da Filosofia e teve início com Sócrates (470 a 399aC), quando ele começou a apresentar questões comportamentais a seus alunos, por meio da Maiêutica.

Até então as preocupações filosóficas estavam no porquê da vida. A bem da verdade, não existe uma definição formal de Ética, mas podemos dizer que ela é a filosofia da Moral, porque se ocupa de uma reflexão crítica sobre cada moral, destacando o que tem de melhor e, por conseguinte, de pior. Embora elaborada por seres humanos, o estudo da Ética procura uma posição enobrecida. Ela não faz opções, não é normativa e nem tem regras ou princípios. Essas características são da Moral.

A Ética é especulativa e qualificativa. Ela analisa cada moral num todo, podendo apresentá-la como cruel, bondosa, ampla, preconceituosa, etc. E também qualifica, em éticos e antiéticos, os atos dos indivíduos que abraçam e mantêm a moral analisada. Portanto, só se pensa em Ética relacionando pessoas em sua moral, e nos atos que tenham a ver com os outros. Se você joga papel de bala na rua e as regras da moral que adota defendem o bem comum, está sendo antiético, pois contribui para as enchentes que afetam muitas pessoas.

Também está sendo antiético, se as regras de convívio social de sua cidade propugnam pela conservação da limpeza das ruas, pois sendo um cidadão desse lugar você deve adaptar-se a elas, mesmo que sua moral pessoal tenha valores diferentes. Só há Ética se houver Moral. Só há moral se houver uma filosofia. Como existem muitas filosofias, também existem muitas morais. O Espiritismo é uma filosofia científica de conseqüências morais. Ou seja: sendo uma filosofia estabelece, por decorrência, uma moral à luz de sua forma de entender a Vida.

A filosofia espírita é composta pelos seus Princípios básicos, ou seja, as conceituações ideológicas que o caracterizam. A saber: a existência de Deus, o criador dos elementos primitivos espiritual e material e as leis universais que regem esses elementos: imortalidade dos Espíritos, pluralidade das vidas e dos mundos habitados, evolução, livre arbítrio, causa e efeito, perispírito e fluidos, mediunidade, erraticidade, influência espiritual sobre os encarnados e sobre os fenômenos naturais. Mas o espiritismo adotou Jesus como o modelo de comportamento humano. Portanto, a moral espírita é composta dos princípios, como valores, sem os quais não se vive à luz do Espiritismo, somados aos ensinos de Jesus (que nada mais são do que esses mesmo princípios mostrados com outras palavras).

A síntese deles que é agir com os outros como queremos que ajam conosco, demonstra sua superioridade. É preciso destacar que o Espiritismo nos apresenta Jesus como um Espírito superior e não como salvador e nem como nosso senhor. Entendendo-o de uma forma que nada tem a ver com o cristianismo das religiões cristãs. Então, havendo uma moral espírita, também há uma ética espírita, que é a vivência de sua moral. Pode-se classificá-la como a ética da liberdade e do amor. Liberdade advinda da vivência dos Princípios e amor aprendido com Jesus. Ético é pensar, falar, viver, ensinar e divulgar o Espiritismo como ele é, ou seja, sem interpretações. Quer dizer, sem os conceitos de outras filosofias e religiões, mesmo que estejamos acostumados a pensar por eles. Em tudo e por tudo o Espiritismo traz uma gigantesca diferença, até na postura pessoal, que não repete a de nenhuma doutrina filosófica, pois pede estudo e prática, para haver a transformação moral natural e gradativa.

Saber, experimentar e transformar-se. Portanto é antiético quando os meios espíritas apresentam um deus pessoal; um deus que nos pune ou premia; quando falam que a reencarnação e a lei de causa e efeito servem para pagarmos pecados; quando apresentam a mediunidade como atratora de Espíritos ou causa de doenças e perturbações; quando atemorizam as pessoas para que exerçam a mediunidade ou irão sofrer; quando colocam nas palavras de Kardec as interpretações pessoais e nas de Jesus as religiosas; quando pregam o umbral como contenção de comportamento; quando endeusam médiuns e palestrantes; quando dizem que deus cria cada animal, planta ou pessoa; quando não estimulam e nem exemplificam a vivência dos ensinos espíritas e de Jesus; quando pregam a moral formal de regras; quando educam pelo medo e sem o ensino dos Princípios: quando não têm os dois elementos primitivos como base do pensamento espírita; quando dizem que a matéria faz isto e aquilo; quando deixam o materialismo ocupar o lugar da certeza da imortalidade; quando não respeitam o livre arbítrio, exigindo entendimentos e atitudes que dizem ser os certos...



Cristina Helena Sarraf - autora.

Um comentário:

  1. Excelente texto.
    Casa muito com o que foi passado pela Ivete Moura na palestra pública desta quinta-feira, 13 de maio.

    Filosofia pressupõe liberdade. A liberdade de pensar, preconizada pelos gregos e defendida com a própria vida pelos iluministas.
    No Espiritismo, temos uma filosofia libertária que se propõe a ser debatida, questionada, discutida incansavelmente a fim de que a Verdade seja retirada do longo cárcere imposto por aqueles que tentaram, a todo custo, contê-la.


    Abraços a todos.

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