terça-feira, 23 de novembro de 2010

A ÁRVORE AZUL – CAPÍTULO 6 - A visita da filha


Envolvido pelo sentimento de vingança e com as imagens ainda bem vivas em minha mente, retornei ao quarto para descansar – se posso chamar aquilo de descanso - Mas a vontade de encontrar a filha de Augusto e de fazê-la sofrer, levá-la à queda e destruir, com conseguinte, meu algoz, não me fez fechar os olhos.

Durante os dias seguintes reencontrei-me ele algumas vezes, que desdobrado pelo sono, via-me acusando-o e prometendo vingança. Pelas vias mentais me divertia vendo-lhe correr de mim, mesmo estando tão perto. Saboreava a cada momento o gosto pela vitória que se aproximava. Ao acordar, ele registrava as sensações provadas pelo pesadelo que eu provocava, bem como sentia uma aproximação muito desagradável estimulada pelo meu padrão vibratório. Ficava ao lado dele num leito de hospital, onde estava internado por feito das drogas em seu organismo.

Permutando com ele energias de baixo teor moral, Augusto dizia aos médicos e às enfermeiras que sonhava comigo. Mas os médicos, muitos despreparados para a complexa realidade espiritual, afirmavam que tudo não passava dos feitos da abstinência.

Travávamos mentalmente duelos ferozes e constante de insultos. Ele, com o olhar de pavor, esmurrava o vento, achando que me socava. Pobre diabo! Para os enfermeiros, mais um paciente com sérios comprometimentos neurológicos.

- Você está perto da morte, miserável. Falava para ele buscando intimidá-lo.
- Quando eu ficar bom irei atrás de você até o inferno seu pulha, seu canalha, seu filho da mãe. Respondia em tom cada vez mais alto.

- A sua menininha será minha! Vou fazer dela o que quiser! Vou devolver em dobro cada dor que você me fez passar! Ela será minha! Só minha!

– Não vai levar minha filha com você! Não vai! Eu amo minha filha; ela é tudo que eu tenho. Dizia chorando.

O infeliz, apesar de alucinado e totalmente vítima da minha influência amava a filha e implorava que eu não fizesse nada com ela, prometendo ir comigo se eu a deixasse.

- Leve-me no lugar dela, eu imploro! Ela é doce e inocente e eu não tenho mais conserto!

Eu, porém, também totalmente hipnotizado pelos espíritos das trevas, não ficava sensível com o pedido de um pai.

E o tempo passou... Após três meses de intensa interferência, Augusto estava muito debilitado, recebendo maiores cuidados. Tudo seguia dentro do plano organizado por Magno, um dos instrutores das trevas, que me informou que a naquele dia a filha voltaria a visitá-lo.

Ela estava viajando em tarefa missionária pelo centro espírita e não pode acompanhá-lo com muita freqüência no período.

- Prepare-se Luis! É chegada a hora do ataque! Ela está cansada da viagem de semanas. Talvez esteja em condições para que possamos nos aproximar dos sutis tecidos da alma e impor o desânimo, uma das mais poderosas energias que utilizamos para destruir os protegidos da luz. Falou Magno.

Antes de sair, me recomendou atenção pela possibilidade de melhora que Augusto poderia ter com a presença da filha, ordenando-me que a partir daquele dia eu deveria persegui-la mais intensamente.

- Não esmoreça! Lembre-se das penas que recaem sobre aqueles que se entregam à luz! Ameaçou-me.

Era domingo, aproximadamente 15h, quando entrou no quarto uma linda moça de pele alva, esbelta e trajada de forma simples. Trazia nas mãos um cesto de frutas e um pacote. Sentou-se, beijou a testa do pai, abriu a bolsa e retirou dela um livro que parecia reluzir. Abriu o embrulho. Era um bolo. Observando-a com gestos simples, não me furtava a perder nenhum detalhe. Afinal, era para estudar mais e atacar o inimigo com muita intensidade. Levantei-me e olhei para Augusto. Cheguei perto ao seu ouvido e dize-lhe nos escaninhos da alma ao seu ouvido:

- Hoje ela será minha, seu vagabundo!

O pobre diabo assustou-se e começou a esmurrar o vento e a fazer-me ameaças. Sua atitude deixou a filha também assustada, que correu para chamar as enfermeiras. Rindo diante do quadro cômico para mim, ouvi o diálogo entre a filha e o pai, que recebia os cuidados da enfermagem:

- Pai, em nome de Jesus, busque se acalmar. Sou eu, sua filha. Não se assuste!
- Suma Ana Maria daqui! Vá embora! O diabo quer te pegar! Ele está aqui, desejando vingar-se de mim - Dizia ao gritos. - Ele é o Luis, um cara que eu fiz muito mal no passado. Eu tinha inveja dele, mas não sei dizer o porquê disso. Não gostava dele e pronto!
- Calma papai! Eu pedirei a Deus que proteja-nos, amparando este espírito que está fazendo-lhe sofrer. Tenho certeza que ele não deseja o seu mal, apenas está confuso, ausente ainda do amor de Deus. Um dia, ele e o senhor vão se reencontrar para aprender a amar. Não é lindo? Deus nos une sempre para o amor.
- Não minha filha, ele deseja matar você! Fugir logo do alcance dele. Ele não morreu, porque eu o vejo sempre – Parecia um louco falando, com os olhos esbugalhados.
- Papai, vamos fazer o seguinte agora: que tal antes de iniciarmos nosso lanche, fazermos uma prece, agradecendo a Jesus por tudo que temos e por tudo que somos, inclusive pela presença deste amigo espiritual, que o senhor acha que quer prejudicar-nos. Vamos orar? Vai fazer-lhe muito bem.
- Não quero vê-la sofrer minha filha! E também não quero prece alguma para ele! É um porco!
- Feche os olhos, papai e segure nas minhas mãos. Vamos orar assim: Senhor das horas e do tempo, aqui estamos para agradecer-lhe os dias que vivemos e a glória do amor eterno que nos oferece. Permita, Senhor, que as pétalas azuis que caem da flor amorosa dos céus, penetrem em nossas almas em forma de energia, reforçando nossos propósitos de seguir os preceitos instituídos diante do “amai-vos uns aos outros”. Ampara os que se odeiam, querido Pai, porque no final, quer queiram ou não, encontrar-se-ão um dia no sei do Teu Amor. Ampara meu pai terreno, também. Sabemos que ele errou, mas qual de nós não errou? Sem esquecer do nosso passado cheio de delitos e crimes, oferta-nos, querido Pai Celeste, a benção do Perdão e permita que o espírito de Luis, que ele diz ver e ouvir, receba por meio de mãos invisíveis, a benção de Jesus Cristo, nosso modelo, nosso guia. Assim seja.

Ao terminar a prece pude ver algo incrível, mesmo com os olhos ofuscados. A enfermaria estava totalmente iluminada por uma luz intensa. Aos poucos a luminosidade era absorvida por minha visão. Durante toda prece uma força estranha havia calado minha boca e meus sentimentos de ódio tinham serenado por alguns instantes.

- O que teria acontecido? Ficava pensando

Do alto caiam fachos de luz rosa sobre a moça e de cor azul sobre Augusto. Aquilo havia me assustado muito. Cai de joelhos e gritei pelo nome de Magno. De repente me vi em meu quarto, apenas iluminado por tochas. Olhei em volta e me senti aflito. Meu coração batia aceleradamente. Ao me levantar do chão, me deparei com Magno, assustando-me.

- Não temas a luz, eu estou aqui! Disse com a voz firme.
- Não consegui me aproximar dele! Eu fracassei!
- Calma Luis, os filhos da luz usam dessas estratégias para vencer-nos! Eles sempre desejam nos humilhar com isso. São todos covardes. Nós somos mais fortes porque vivemos nas trevas e não precisamos de luz de cor alguma para sobreviver e manter nosso poder sobre os homens.
- Você viu o que se passou?
- Sim, vi. Mas não se impressione com isso! São efeitos de algo que não existe. Tudo ilusão criada por eles! Não creia que aquilo tudo seja real. É apenas para enganar os desprevenidos. Mas agora descanse um pouco. Amanhã você recomeça com mais raiva ainda. Mas preste atenção: não fique nervoso ao contemplar alguns efeitos dos enviados do Cordeiro. Se você falhar mais uma vez a coisa poderá se complicar para o seu lado. Mantenha-se firme e não esmoreça. Quando alguém lhe oferecer preces, recuse imediatamente. Eles querem prender você! São lobos em peles de ovelhas. Escondem-se sobre o véu da caridade. Eles são tão imperfeitos quanto nós! Não ligue para nada. Ouviu?

Magno desapareceu da minha frente em névoas escuras, como um mágico. Eu, sem querer descansar me dirigi ao auditório, onde assisti a uma palestra sobre como promover a discórdia no seio familiar. Era uma mulher que abordava os crimes mais comuns cometidos em família, apresentando técnicas de como estimular o adultério. Naquele momento, a palestra foi muito motivadora para mim.

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