segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A arte como difusora do conhecimento espírita


Por arte espírita entende-se o conjunto de expressões de cunho artístico produzidas sob influência do espiritismo. Atualmente, o Brasil é o país que abriga a maior quantidade de artistas e de produções de arte espíritas. A Associação Brasileira de Artistas Espíritas conta hoje com 87 associados e mantém uma lista de discussão formada por quase trezentos artistas espíritas de todo o país.

As primeiras expressões artísticas identificadas com a doutrina espírita surgem em 1858, pouco após o lançamento de O Livro dos Espíritos. Observa-se nesse primeiro período uma forte identificação entre arte e mediunidade. Já na Revista Espírita de agosto daquele ano, consta a reprodução de um desenho intitulado A casa do Profeta Elias, em Júpiter. A peça é do teatrólogo espírita Victorien Sardou, que a atribuiu ao espírito do ceramista francês Bernard Palissy. Três meses depois, o periódico publica relatos sobre um médium pintor norte-americano, identificado como E. Rogers. Já a edição de dezembro de 1858 traz o primeiro de uma série de textos que preencheriam ao longo dos anos a seção Poesia Espírita da revista. Trata-se do poema O despertar de um Espírito, atribuído ao espírito Jodelle, numa possível referência ao poeta francês Étienne Jodelle.

No ano seguinte, a arte mediúnica chega ao campo da música. A edição de maio de 1859 da Revista traz uma matéria sobre o fragmento de uma sonata atribuída ao espírito de Mozart, pelo médium Bryon-Dorgeval. Em 1860, Kardec utiliza pela primeira vez a expressão arte espírita, propondo-a como o terceiro elemento de uma tríade formada também pela arte pagã e pela arte cristã.[3] Já nesse enunciado inicial, o sistematizador da doutrina parece mais propenso a uma arte inspirada pelo espiritismo do que a obras atribuídas a espíritos. Mesmo assim, nos anos seguintes só haveria registros esparsos de uma produção artística não-mediúnica entre os espíritas.

Em 1862, há o primeiro registro de uma obra de arte espírita não atribuída a espíritos. O poema O Vento, apresentado na Revista Espírita de fevereiro daquele ano como uma fábula espírita, é do francês que se identifica como C. Dombre, de Marmande. O texto usa como epígrafe uma frase de Kardec[4] e consiste numa metáfora sobre a difusão do espiritismo. Em setembro, sai o poema Peregrinações da alma de B. Jolly, herborista de Lyon, e, em outubro, nova fábula poética de C. Dombre, intitulada A Abóbora e a Sensitiva.

Em fevereiro de 1864, circula em Paris o romance A Lenda do Homem Eterno, do escritor francês Armand Durantin. O autor, que não era espírita, desenvolveu uma trama na qual um homem conhece o espiritismo após o falecimento da esposa, e acaba por se descobrir médium.[5] Kardec critica a obra por incorreções nas referências espíritas. Apesar disso, destaca o valor da iniciativa, aparentemente pioneira..[6]

Dois meses depois, o francês Jean de la Veuze publica A Guerra ao Diabo e ao Inferno, a imperícia do diabo, o diabo convertido, uma sátira à tese de que o espiritismo seria um instrumento diabólico para encaminhar pessoas ao inferno.Quase simultaneamente, o espírita V. Toumier lança Cartas aos Ignorantes, filosofia do bom senso, uma síntese poética dos princípios contidos em O Livro dos Espíritos.


Notas e Referências
• Uma réplica do desenho original, no formato 47 x 60cm, pode ser vista aqui
• O trecho foi encontrado em 2004, numa biblioteca londrina, e remetido à Federação Espírita Brasileira. O engenheiro Alexandre Zaghetto reconstituiu a partitura no computador. Ela pode ser acessada aqui
• No artigo A arte pagã, a arte cristã, a arte espírita, publicado em dezembro daquele ano, Kardec defende a arte espírita como a sucessora da arte cristã: "(…) o Espiritismo abre à arte um campo novo, imenso, e ainda inexplorado, e quando o artista trabalhar com convicção, como trabalharam os artistas cristãos, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações"
• "Quanto mais a crítica tem ressonância, mais pode fazer de bem, chamando a atenção dos indiferentes"
• Revista Espírita, fevereiro de 1864, Notícias bibliográficas, A Lenda do Homem Eterno
• 6,0 6,1 Idem, ibidem
• Revista Espírita, maio de 1864, Notícias bibliográficas
• Revista Espírita, outubro de 1864, Variedades, Um quadro espírita na exposição de Anvers

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