terça-feira, 16 de novembro de 2010

A ÁRVORE AZUL – CAPÍTULO 5 - A sala de projeção


Durante os dias que se seguiram fomos levados em grupos, separados pela afinidade fluídica e pelos propósitos de vingança, a exposições assustadoras. Em sala ampla, com a luminosidade apenas das tochas, um homem de aproximadamente 40 anos, com fisionomia austera, iniciou a palestra. Começou nos pedindo para que relembrássemos os responsáveis pelas desgraças e misérias humanas. Percebendo que as diversas formas pensamento que emitíamos não conseguia, alcançar a uma definição mais clara, ele mesmo apontou o dedo para uma parede e uma tela, feito cinema, apareceu diante dos nossos olhos. Imagens de pessoas ricas em altos divertimentos, gastando dinheiro e bebendo muito, se corrompendo e políticos trapaceando, dentre outros, causaram revolta em uns, satisfação em outros e indiferença nos demais. Observando nossos semblantes, o instrutor austero falou:

- Essas pessoas, apesar de pousarem como boas para a sociedade, criaram um sistema de administração público, econômico, social e cultural que os levaram a cometer os crimes. São inocentes por fora, mas culpadas por dentro. É claro que sempre estimulados por inteligências como nós igualmente perversas. Porém, é preciso que sejamos bem claros – e aí eu percebi que ele agia com ironia – Se vocês são espíritos desprezíveis hoje é por causa da indiferença delas diante dos seus sonhos e desejos de realização. Elas conquistaram tudo e vocês? Nada! Elas roubam, matam, se pervertem e nada acontece com elas. Só com vocês! Eu sei que alguns de vocês são fracos e alguns não queriam ser tão ruins quanto são. Desistam! Aqui ninguém é bonzinho. Todos são miseráveis! E o ser miserável é o que nos importa! Esses que vocês vêm na tela são cobras e ratos que agem de maneira sorrateira na sociedade humana depravada. Eles avançaram para ter tudo e vocês continuam com nada! Roubaram tanto, mataram tanto e nada avançaram. Observem que alguns são juízes, os mesmos que decretaram suas vidas na prisão. Eles são bonzinhos para o mundo, mas iguais a vocês para nós. São tão porcos, tão nojentos quantos vocês! E que tal se vingar deles? Afinal foram eles que deixaram vocês assim!

Um tumulto se fez, como que concordando com a orientação. O instrutor, porém ordenou:

- Calem-se! É preciso se vingar deles, também! Mais isso não é agora! Isso é para quando eles fraquejarem diante das nossas ordens! Quando um deles começar a ser tocado pelos espíritos da Luz, nós iniciaremos a atuação mais adequada. Por hora, é preciso que vocês se fortaleçam mais aqui.

Fez ligeira pausa, observando nossas dúvidas e inquietações e prosseguiu:

- Tenha calma! Não são eles quem nos inquietam por hora. Temos um plano ainda melhor! Muitos deles podem despertar em breve, avaliando se devem continuar ou não sob os nossos comandos. Mas estamos a postos e precisamos ficar bem atentos. Naqueles em que há a dúvida da honestidade, estimularemos ainda mais a corrupção. Naqueles onde existe leve sombra de rancor, estimulamos a discórdia... e assim por diante... E cada um de vocês tem função importante nisso tudo. Cada um de vocês tem algum lado com eles, seja direto ou indireto.

Observou-nos mais um pouco e prosseguiu:

- Só os tolos se vingam sem planejamento. Quem deseja se vingar com competência precisa ser estratégico. Podemos atacar diretamente, sorrateiramente, como pelos flancos, envolvendo nossas vítimas nas mais odientas obsessões. Tudo podemos!

Observando aquele homem abordar seus argumentos, percebi que ele apenas estava usando os fatos para nos estimular à revolta e não propriamente ao plano de vingança contra aquelas personalidades que surgiam na grande tela. Com muita inteligência ele prosseguiu:

- E o que fez o Cordeiro por vocês? Nada! Para eles, os poderosos da Terra, tudo: riqueza, poder, juventude, glórias, gozos, liberdade! E para vocês? A morte! O inferno como morada! Mas vocês podem reverter tudo isso. Esses que estão no poder, que acabamos de ver nas telas, são apenas uma forma de estimulá-los à vingança. Mas existem outros, são os que mais nos interessam. Se forem fiéis as nossas idéias, prometo-vos que vocês voltarão á Terra e terão muito mais poder, dinheiro, fama e prazeres que todos eles juntos!

Fez pequena pausa e prosseguiu convicto:

- Como eu disse, não são eles que nós queremos destruir de fato! Eles não são nossos problemas! Eles já estão atuando livremente em nossa faixa e como dizem: já estão condenados a viver conosco para sempre! Não é essa a vontade do Criador: Deixar-nos para sempre queimando no inferno? Não foi Ele quem criou anjos e demônios para que sempre vivesse numa luta sem trégua? Quem nos interessa são os que podem ainda ser convertidos às falanges do Messias. Muitos, aliás, ligados a eles! Vamos começar, agora, o que de fato queremos com vocês! Pensem em alguém que vocês muito desejam se vingar. Alguém que ficou na Terra e que foi o responsável direto pela desgraça! Alguém que tirou tudo de vocês! Pensem! Pensem! Pensem!

Julio, um dos desgraçados que conheci, disse que odiava um ex-amigo, que o entregara aos policiais, após uma tentativa de fuga. Enquanto ele falava, uma forma densa de energia saia de sua mente, criando uma imagem sobre sua cabeça e ficando visível para todos nós. A idéia plasmada era impressionante. Tinha até cheiro. Víamos, em detalhes, tudo que ele estava narrando. Aquilo era impressionante e assustador ao mesmo tempo. Com os olhos vermelhos de ódios, ele narrava sua vida cheia de desgraças morais e seu fim trágico.

Em seguida, Antônio, outro companheiro de sofrimento, alegou que matou seu irmão mais novo com tiro na cabeça, depois que esse, amedrontado pelo chefe das drogas em sua cidade, o entregou, sendo torturado e morto pelos bandidos rivais. Ele gostava muito do irmão, mas num estado de cólera, assassinara Marcelo, seu irmão, despejando toda a culpa e seu ódio num tal de Leão da Bola, o chefe do tráfico.

Quando chegou na minha vez eu não conseguia me lembrar de nada. Disse então que não odiava ninguém. Ele, porém, me repreendeu em voz alta:

- Você deve odiar alguém, sua besta! Lembre-se! Vamos logo! Busque recordar quem foi o responsável pelo seu infortúnio. Recorda espírito odiento daquele que te iniciou. Recorda agora eu te ordeno!

Uma força maior que eu começou a agir. Ainda assustado e meio tonto, vi que de minha mente saia uma forma esquisita de névoa escura que aos poucos formava imagens da minha vida jovial. Vi-me adolescente, brincando com os meus colegas; vi meus pais jovens me ensinando; vi meus professores da escola; me vi jogando bola e soltando pipa. Vi também Augusto, um rapaz mais velho que eu, que era líder de um grupo de arruaças, me fazendo uma promessa:

- Deixa este grupo de tolos evangélicos Luis. Você é mais inteligente que todos eles. Você é mais esperto, mais ativo e mais poderoso. Se junte ao nosso grupo e venha descobrir conosco novas emoções. Mulheres e dinheiro, muito dinheiro, esperam por você. Esqueça de vez a mesada mixuruca que teu pai te oferece. Pense no poder que você terá ao meu lado, um poder que nem o pastor da tua igreja tem. Pense na glória de ser livre, de ir para qualquer lugar sem pedir permissão para ninguém.

Vi que o tempo me fez escolher a opção de Augusto. As imagens projetadas estavam me revelando algo muito mais forte que tudo isso. Revi os momentos em que entrei pela primeira vez na casa de Augusto. Percebi, naquelas cenas, que espíritos, em formas desumanas coabitavam com ele, permutando interesses. Como quem anda com porcos farelos come, pude rever minhas participações em bacanais. Naquela época experimentei, sob a influência de Augusto, o álcool e as drogas. Revi ainda o choro dos meus pais ao saberem da minha vida desregrada, bem como também vi os risos de Augusto com as surras que eu levava. Fora ele que entregou carta anônima ao meu pai, dando conta do meu comportamento. Vi Augusto planejando com seus comparsas uma surra que eu havia levado, sem que eu soubesse, até aquele instante, quem havia mandado. Revi Augusto me visitando no Hospital, depois da sova que recebi, fingindo preocupação comigo, mas na realidade muito satisfeito com o estado que ficou meu corpo. Vi Augusto entregando uma carta na polícia, dando conta do endereço onde nós nos encontrávamos para fumar e fazer festas. Revi o momento em que os policiais chegaram no local prendendo a todos, menos Augusto que estava longe. O vi ainda invadindo a minha casa para roubar o pouco de dinheiro que meu pai tinha guardado, colocando coisas minhas próximas, dando a entender que havia sido eu o responsável por aquele roubo. Vi Augusto no enterro de minha mãe, dizendo aos outros que fora eu o causador da morte dela.

- Basta! Gritei cansado. – Quem imagens são estas? Unas eu me recordo, outras jamais havia presenciado antes!
- As que pertencem a ti são tuas. As que não são tuas foram retiradas de Augusto, que neste instante dorme em quarto próximo daqui, recebendo Orientações de um dos nossos.

- Mas que incoerência – disse revoltado – Você deseja que eu odeie ainda mais e me vingue de um dos teus? Que loucura é essa? Perguntei atordoado.

O homem fixou os grandes olhos avermelhados em mim e perguntou:

- Ignoras, pobre espírito, os laços que nos ligam? Sim, ele é um dos nossos, como você também, mas ambos se completam, ambos se odeiam e o ódio de vocês dois é o combustível, a energia que precisamos para fazer com que o mal possa se alastrar ao entorno de vocês. Mas algo nos preocupa bastante. Hoje mesmo sendo um dos nossos na Terra ele vem recebendo ajuda do plano espiritual do Cordeiro. A filha adolescente é integrante de um grupo de jovens de uma casa espírita em sua cidade. O caso dele se agrava, porque o amor da garota pelo pai infame vem neutralizando nossas influências. A menina tem proteção espiritual superior e os anjos da luz vêm ajudando o miserável, que está tendo lampejos de remorso. Orações ao Cordeiro estão chegando com seus efeitos devastadores ao coração e à mente de Augusto. Nós não podemos deixar que isso se prolongue. Ele vem nos visitar quando dorme, por meio do sonho, porque ainda está ligado a nós por suas afinidades. Mas a fé da filha é muito grande e pode atrapalhar seriamente nossos propósitos. Você, caro Luis, será o instrumento que irá persegui-lo, mentalizando os terríveis enganos, mantendo vivo o ódio por você. Irá, ainda, aproximar-se da filha, que ele tanto ama, e irá estimulá-la à desgraça, do mesmo jeito que ele fez contigo quando era jovem.

Parou um pouco e tornou a falar:

- Não estamos preocupados com ele especificamente, mas com a oportuniade que temos de ampliar a desgraça ainda mais. Se a filha cair nas teias da maldade, entregando-se aos nossos desejos, toda a casa espírita que ele freqüenta, por acreditar na capacidade da jovem como uma grande missionária, cairá também. São espíritos bons, esses que trabalham nesse centro espírita, mas igualmente imaturos e ingênuos. Não acha brilhante nossa idéia? (risos sarcásticos). Aí consiste nosso plano. Por meio da sua ajuda, da sua vingança, iremos trabalhar para fins reais: você se vinga do seu algoz e nós destruímos o celeiro de luz que fixa em região pobre da Terra. No final, como recompensa, você verá Augusto humilhado, destruído, arruinado por sua vontade, além disso, terás ganhado a confiança do nosso mestre e receberá novas atribuições para futuras investidas contra os apóstolos do Messias. Serás um poderoso instrumento da nossa vontade! Não se preocupe, você vencerá facilmente com a nossa interferência. E continuaram os relatos em febris estados mentais.

2 comentários:

  1. Nossa, quanta infelicidade ainda haveremos de causar uns aos outros...
    E o texto me lembra da importância da oração pelos criminosos, encarnados ou desencarnados. Muito bom!
    Abç

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  2. Queridos companheiros espíritas, tenho visto muitas casas exaltarem a mediunidade, as comunicações e de tudo mais que diz respeito a interação entre os dois planos.
    Mas qual é a hora certa de abrir as portas das reuniões mediúnicas? Quem nos diz quando tornar as comunicações públicas?
    Precisamos de mais cautela. Divaldo narra em uma de suas palestras que diversas mensagens foram escritas pelo seu intermédio, sob a orientação dos benfeitores espirituais, até que um dia, depois de muitos anos, ele recebeu a recomendação para que fosse queimado o que escrevera até ali, pois não passavam de simples exercícios. Não guardado, mas queimado.
    É necessário termos cuidado com a vaidade, a curiosidade e imprevidência que, sorrateiras, podem fortalecer a idéias e comportamentos equivocados.
    Reflitam e fiquem em paz!
    Andréa

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